Continuando

A historia do pedinte (para quem não leu, clique AQUI).
- Tá brabo? Nem vou falar nada...
E me deu as costas e saiu rindo. Dava umas olhadinhas para trás mas continuava no seu passo modorrento.
Pensei com os meus botões (apesar de usar ziper)
- "Bicho folgado. Na próxima dou umas pedradas"
E gritei alto:
- Vá trabalhar vagabundo. Folgado! E corredaqui se não vou dar uma pedrada em você.

Domingo, 13 de Setembro de 2009.
Batem palmas no portão. Olhei pela festa da porta e quem vejo? O mesmo pedinte lá na frente, parado. Segurava um cobertor encardido em uma mão e na outra, uma laranja, que a cada chupada, babava mais do comia. Não pensei duas vezes e fui logo gritando:
- Voce de novo seu vagab...
- Posso falar?
- O que?
- Posso falar hoje?
- Falar o que?
- Aquele dia o senhor estava nervoso. Nem tentei falar. Achei melhor voltar outro dia
- Como é?
- É. Sabe senhor, não sou vagabundo não. Eu sou um perdido. Perdi minha familia, minha avó, meu trabalho. Perdi tudo..
- Como assim? ( como percebem, meu vocabulário foi reduzido)
- Quando minha avó morreu tempos atrás, eu que morava com ela perdi a casa. Passei a morar na rua, já que não tenho parentes. Perdi também meu emprego, já que ninguém daria um emprego a quem mora na rua. Assim, fui perdendo minha vida aos poucos. Hoje, só conseigo sobreviver pedindo, por que não me resta mais nada. Sei que o senhor ficou bravo aquele dia e por isso não discuti. Mas quis muito voltar hoje aqui e lhe contar que eu não sou vagabundo como o senhor me chamou.
Olhei bem para o cara (mentira, não consegui levantar a cabeça) e disse:
- Espere um minuto....
Entrei em casa, peguei uma sacola, coloquei tudo o que encontrei nos armários e entreguei nas mãos do rapaz.
Ele me olhou e disse um "obrigado" que saiu muito baixo e triste. Eu nem responder consegui. Saiu caminhando, babando com sua laranja e eu pensei com meu ziper:
- Eu poderia dar tudo o que tenho para ele, e ainda sim, ele teria menos do que tenho.