Quem sou e de onde vim - Parte 2

Minha mãe pois, não teve calamiades. Um dia, elogiando-a, uma velha que me criou dizia que agradava tando que enfeitiçava a todos com quem tratava...Vejam só, com que sorrisos ela ouvia a todos, era mais para atrai-los. Nem vou contar as penitencias que fazia. Tinha um aposento onde só ela entrava (algumas vezes, quando eu era criança, eu podia), todo rodeado de caveiras, que ela dizia que eram memória da morte; dos outros, pois era vontade da vida. Sua cama estava suspensa por cordas de enforcados e me perguntava: "O que está pensando?".

Houve grandes diferenças entre meus pais sobre a quem imitar no oficio, mas eu, que sempre tive pensamentos de cavalheiro desde pequeno, nunca me dediquei nem a um, nem a outro. Dizia meu pai: "Filho, isso de ser ladrão não é arte mecânica, e sim liberal"; Depois, suspirando dizia: "Quem não furta no mundo não vive. Por que pensa que os policiais e politocos nos aborreçem tanto? Algumas vezes caçam, outras, nos açoitam e noutras nos penduram, meso que nunca tenha chegado o dia de nosso santo. Não posso dize-lo sem lágrimas" (chorava feito criança o bom velho, lembrando das vezes que tinham lhe quebrado as costelas.
"Eles não queria, que onde estão houvesse mais ladrões que eles e seus ministros, mas de tudo nos livra a boa astúcia. Em minha mocidade sempre andava pelas igrejas (certamente não por ser um bom cristão). Muitas vezes teriam me levado na mula se tivesse falado no potro. Nunca confessei a não ser quando a santa mãe igreja; assim, com isso e meu oficio, sustentei tua mãe honradamente possível".
"Como assim, me sustentou?" disse ela com muita raiva....

(continua)