Quem sou e de onde vim...

Eu, meu senhor, sou de Segóvia e meu pai se chamava Clemente Pablo, natural do mesmo lugar (Que Deus o tenha). Era como todos o chamavam: Barbeiro. Apesar se ser alguém tão culto, que não gostava que o chamasse assim, dizia que era cortador de bochechas e alfaiate de barbas. Dizem que era índole. Do jeito que bebia, dava para acreditar.

Esteve casado com Aldonza Saturno de Rebollo, filha de Octávio de Rebollo Codillo, e neta de Lépido Ziuraconte. Corria a boca-pequena na vila, de que não era uma católica de familia, apesar de que pelo seus sobrenomes, dizia que descêndia dos do triunvirato romano. Era bem-apessoada, e foi tão conhecida, not empo em que era viva, que os cantadores da Espanha diziam coisas em ais coisas sobre ela. Trabalhou muito antes e depois de se casar, por que as más línguas diziam que o meu pai "colocava o dois de paus para tirar o às de ouros". Provou para todo mundo que que sabia barbear com a navalha: Enquanto os molhava, lavando o rosto no lavatório, meu irmão de sete anos, lhes esvaziava os bolsos. O anjinho morreu devido os açoites que lhe deram na cadeia.
Por estas e outras ninharias esteve preso, mas conforme me contaram depois, saiu da prisão com tanta honra, que o acompanharam duzentos cardeais, mas a nenhum chamavam de eminência.
Dizem que as damas saíam na janela para vê-lo, pois meu pai sempre foi bonitão, a pé ou a cavalo. Não o digo para me vangloriar, já que todos sabem que adoro cavalos...

(continua)